Rosa Brava
Um aroma suave e persistente desperta-me de um sono que me abraça e me reclama. Rosas.
Levo a mão ao peito para me assegurar que o coração ainda bate, mas o que sinto são pétalas que se desfazem como pergaminhos não lidos, um espinho que me corta o dedo. Isto traz-me uma memória vaga e abro os olhos em choque para ser ofuscada por um pedaço de lua. O silêncio é total. O sabor triste da desilusão não é suportável. Todos os anos, acordo com um cheiro a rosas frescas, e todos os anos volto a adormecer segundos depois de despertar. Antes de a maldição me prender de novo, peço ao sol que se apresse na sua dança. Para o ano, não me deixarei enganar pelo cheiro sedutor. Para o ano, vou acordar para sempre dos sonhos em que sinto mas não existo.